segunda-feira, 21 de outubro de 2019

ARTIGO: OS 04 CAVALEIROS DE BONFIM


Por Tenente Cordeiro.

Esse texto Ć© um capĆ­tulo de uma obra ainda em construção. O objetivo maior Ć© despertar a curiosidade do povo dessa terra para conhecerem sua própria história. 

 
(...) SaĆ­mos da Estação FerroviĆ”ria. Levitamos por uma rua larga, era a atual PraƧa Lauro de Freitas, só existia o espaƧo vazio; Ć  frente procurei o Hotel Novo Leste e nada existia no lugar alĆ©m de umas casinhas. EntĆ£o lembrei do que a imagem havia dito sobre a dimensĆ£o temporal de se fundir no espaƧo, gerando imagens, espectros e cópias. RobĆ©rio Dias parou no meio da encruzilhada, onde atĆ© pouco tempo os bonfinenses chamavam de “relógio”, devido um relógio que existia no meio dum canteiro, e hoje chamamos de rotatória da PraƧa Nova do Congresso. Paramos no meio do nada. Em nossa frente estava um vĆ£o gigante, e Ć  nossa direita estava o CasarĆ£o de Dona Adelina Felix, que ainda hoje permanece no mesmo lugar e com a mesma arquitetura, Ć© o local chamado de Delicatasse Veneza. 

Olhei para o espirito, com aquela bata acinzentada, e perguntei que construção bonitinha era aquela lĆ” no centro do vĆ£o. Ele me explicou que estĆ”vamos na PraƧa Benjamim Constante, que posteriormente, em virtude do Congresso EucarĆ­stico, da Igreja Católica, a nova praƧa, após pequenas reformas, passou a se chamar PraƧa Nova do Congresso EucarĆ­stico, no entanto com a dinĆ¢mica da lĆ­ngua, a palavra “eucarĆ­stico” caiu em desuso.

Depois dessa rĆ”pida explicação o espirito falou sobre aquela construção no centro da praƧa. Era uma pequena joia arquitetĆ“nica, um Coreto. Foi dito que aquele Coreto havia sido construĆ­do no ano de 1945, e após alguns anos de abandono pelo poder pĆŗblico, pessoas da sociedade, principalmente membros das filarmĆ“nicas, terminaram a construção. Ali, naquele Coreto, dizia a imagem de RobĆ©rio Dias, ocorreu diversos shows filarmĆ“nicos e apresentaƧƵes culturais, alĆ©m de ser ponto de encontro da juventude. Foi um local de aprazimento da cidade. 

Quis ir mais próximo do Coreto, e Robério Dias levitou mais devagar, falando-me de alguns dos casarões no entorno da praça, mas confesso que minha atenção estava centrada em algumas pessoas que estavam na parte interna do Coreto, conversando e gesticulando. Queria saber quem eram aquelas pessoas. Em tom solene, pedi ao espirito que nos aproximÔssemos, ele concordou e pra lÔ fomos.

Ficamos aos pĆ©s do Coreto. Eram quatro homens conversando entre eles, dava pra ver o rosto de cada um e ouvir suas vozes. Quis falar com eles, mas o espirito disse nĆ£o ser possĆ­vel, explicando que estamos em mundos opostos, e a mim nĆ£o existia tal permissĆ£o. Passei observar o que eles conversam, e estarreci! Um deles parecia com... Ɖ o professor Paulo Machado? Perguntei de sĆŗbito. RobĆ©rio Dias disse que ali eram representaƧƵes. EntĆ£o perguntei quem eram aquelas pessoas, ao que ele me respondeu, que naquele Coreto estavam “Os quatro cavaleiros de Bonfim”, nĆ£o cavaleiros apocalĆ­pticos, mas os pilares da memória da cidade. Sem eles, disse o espirito, esta cidade nĆ£o teria passado. Ɖ graƧas a eles que alguns poucos bonfinenses conhecem sua própria história.

Quais os seus nomes? E por que eles conversam tão apaixonadamente? Perguntei. A imagem volveu-se para mim, e por um tempo razoÔvel me falou sobre a vida daqueles senhores. Disse-me que naquele Coreto estavam as joias do conhecimento: Lourenço Pereira da Silva, Augusto Sena Gomes, Adolpho Silva e Paulo Batista Machado.

Meu caro soldado, disse o espirito, LourenƧo estĆ” para Bomfim, assim como o apostolo Paulo estĆ” para o cristianismo. Ele lanƧou o primeiro jornalzinho, denominado de “O RelĆ¢mpago”, no entĆ£o distrito de Jaguarari. Foi um homem obstinado e metódico. Buscou de todas as formas racionalizar a história de toda a regiĆ£o. Ele nasceu no Arraial de Itumirim, que hoje Ć© conhecido por vocĆŖs como Juacema, em 10 agosto de 1875. Seus pais perceberam desde cedo sua inteligĆŖncia descomunal, mas nĆ£o puderam dar-lhe mais que trĆŖs meses de ensino particular. Foi um autodidata. Meteu-se com grupos literĆ”rios e participou ativamente da vida polĆ­tica, alĆ©m de contribuir com um jornal da capital (Caderno de NotĆ­cias). Fundou o periódico “O Atleta”, um dos mais festejados jornais do interior do Estado. LoureƧo foi o mais brilhante astro do seu tempo, no campo da literatura e do conhecimento, na Ć©poca em que essa terra era “considerada a Meca da Intelectualidade” do interior baiano.

Mortal, lembra das 95 teses de Lutero, e o seu poder avassalador que principiou a reforma religiosa? EntĆ£o digo a vocĆŖ, que o poderoso livreto escrito por LourenƧo e publicado no ano de 1906, denominado: “O MunicĆ­pio do Bonfim”, tem o mesmo poder para a cidade de Senhor do Bonfim. LourenƧo foi o primeiro homem do Jardim do Ɖden da História, foi nosso AdĆ£o. Tal livreto abre as portas e janelas do passado, nĆ£o fosse aquele livreto, nĆ£o saberĆ­amos detalhes importantes sobre Bonfim, principalmente na Ć”rea da geografia, agricultura, religiĆ£o, história, agropecuĆ”ria, hidrografia, fisiografia etc. Este livro, Ć  Ć©poca, foi um tremendo sucesso; hoje, infelizmente, caiu no esquecimento, e tornou-se mais raro que diamante. LourenƧo nĆ£o parou por aĆ­, escreveu muito mais.

Escreveu sobre a Freguesia Velha de Santo AntĆ“nio, atual cidade de Campo Formos, e iniciou sua obra magistral, atĆ© hoje considerada a BĆ­blia de Bonfim e RegiĆ£o, o livro: “Memória Histórica e GeogrĆ”fica Sobre a Comarca de Senhor do Bonfim”. Este livro foi publicado postumamente em 1915. Sim, postumamente, pois LourenƧo faleceu em 15 de dezembro 1912, com apenas 37 anos. Viveu muito pouco, mas cumpriu seu propósito, assim como Castro Alves. Esses seres, caro mortal, tem missƵes especificas. O livro foi concluĆ­do por um grupo de amigos e colaboradores e publicado trĆŖs anos após sua morte. Seu legado nĆ£o se pode medir. O grande problema Ć© que os vivos de hoje, miseravelmente desconhecem este homem.

Somente ouvia aquelas informaƧƵes. A imagem em tom solene, continuou fazendo referĆŖncia ao outro espirito de cabelos grisalhos e bigode, que estava voltado para LourenƧo Pereira. Aquele, mais elegante e vistoso, Ć© o Augusto Senna Gomes. Ele nasceu em 23 de dezembro de 1882. Foi o maior expoente do jornalismo na cidade de Bonfim. Desde cedo era obstinado por ensaios, poesias, crĆ“nicas e atĆ© modinhas. Amava tanto as letras que no ano de 1907, decidindo que aquela era sua missĆ£o, inicia a participação no jornalismo, escrevendo para jornal “O Artista”. JĆ” mais experiente, fundou em 1912, o “Correio do Bonfim”, jornal de maior circulação e duração na cidade de Bonfim. O jornal circulou atĆ© o ano de 1942. Augusto representou a intelectualidade e a civilidade, seu jornal cobriu e registrou acontecimentos diversos sobre toda a regiĆ£o, chegando inclusive a ser assediado pela grande mĆ­dia da capital, tamanho era seu potencial para a escrita. Ɖ uma das grandes fontes de pesquisa da primeira metade do sĆ©culo XX. 

Era casado com Donete, e sua descendĆŖncia avivou e manteve a cultura na cidade por muitos anos. Foi intendente e vereador, e participou ativamente da construção cultural e histórica da cidade. Sua marca existe ainda hoje em diversos pontos da cidade, a exemplo do antigo Hospital Nossa Senhora da Piedade, cujo prĆ©dio ainda se encontra de pĆ©, no bairro Pernambuquinho, alĆ©m de ter fundado a casa para idosos: “Casa SĆ£o Vicente”. Foi um ser que se destacou, por tambĆ©m ser autodidata, e se encantou com o mundo das letras em virtude de ter sido guarda livros no palĆ”cio de AntĆ“nio Felix, em sua biblioteca particular, onde se deleitava com todo tipo de leitura que tinha acesso. Augusto Sena Gomes faleceu em 22 dezembro de 1956.

A imagem apontou pra mim e perguntou: Mortal, jÔ ouviu falar em Gil Gaio? Respondi que não. Então a imagem disse: pois procure saber. Fez a alegria de muita gente com críticas e sarcasmo à sociedade da época. Consenti que pesquisaria sim.

Outro, que estava naquele Coreto resplandecente, tambĆ©m voltado para LourenƧo, era Adolpho Silva. Grande pensador e crĆ­tico bonfinense. Nasceu no povoado de Umburana, nas proximidades de Canoa (Igara), e foi, tambĆ©m, um autodidata, amante e dominador da lĆ­ngua portuguesa. Era um mestre da escrituração mercantil. Teve seu envolvimento com Augusto Sena Gomes, ainda jovem, quando passou a escrever para o jornal Correio do Bonfim, na seção denominada de Lampejos, alĆ©m de ser colaborador de outros jornais da regiĆ£o. Mas seu principal feito foi ter escrito o livro: “Bonfim, Terra do Bom ComeƧo”, publicado em 1971. Uma pĆ©rola! A gĆŖnese do nome do livro se funda em uma frase dita por Rui Barbosa quando de sua visita a esta terra, em dezembro de 1919. O maior dos brasileiros disse, em uma conferĆŖncia realizada no PaƧo Municipal, “A cidade do Bonfim, neste momento nĆ£o Ć© só a cidade do Bonfim, mas tambĆ©m a cidade do Bom ComeƧo. Ora, senhores, o bom comeƧar Ć© meio caminho andando para o bom terminar”. Dessa colocação, entĆ£o nasceu o epiteto representativo da cidade de Senhor do Bonfim, hoje proclamado por todos os cantos: Bonfim, Terra do Bom ComeƧo.

Adolpho Silva, tem um significado titĆ¢nico, para a história de Bonfim. Depois de LourenƧo, foi ele quem racionalizou e escreveu sobre fatos, pessoas, dados e histórias, atĆ© o ano de 1971. Biografou os grandes nomes da cidade, a exemplo de Dr JosĆ© GonƧalves e Dr AntĆ“nio GonƧalves (Pai e filho). Trouxe detalhes da formação e construção da cidade, alicerƧado em LourenƧo e alimentado, tambĆ©m pelas pĆ”ginas antigas do Correio do Bonfim. Contou tudo sobre a visita de Rui Barbosa, a morte do CĆ“nego Hugo, a salutar e entusiasmada rivalidade entre as filarmĆ“nicas UniĆ£o e Recreio e 25 de Janeiro, rivalidade que ultrapassou o mundo da mĆŗsica e indo ao campo da polĆ­tica. Ɖ uma figura Ć­mpar, cujos bonfinenses devem reverĆŖncia.

Naquele momento, a imagem apontou para o Ćŗltimo dos quatro cavaleiros, sugerindo observĆ”-lo, estava em posição de respeito aos demais, falava sempre com ternura e maravilhado diante dos trĆŖs cavaleiros, dava pra perceber pelos seus gestos. Indaguei a RobĆ©rio Dias... aquele eu recordo de ter visto em vida. Ɖ o professo Paulo Machado. Ao que o espirito me disse: sim, Ć© a silhueta representativa dele. A imagem entĆ£o retomou a palavra e disse que o professor foi um homem de bom coração e de inteligĆŖncia demasiada. NinguĆ©m, absolutamente ninguĆ©m, amou esta terra mais que ele. Dedicou sua vida a escrever sobre Senhor do Bonfim e sua gente. Espirito inquieto e curioso, tinha gosto em desvendar o passado e se maravilhava com isso, donde partia sua motivação. VĆ”rias foram suas obras, mas foi em “Noticias e Saudades da Villa Nova da Rainha, aliĆ”s, Senhor do Bonfim”, que empregou seus maiores esforƧos.

Neste livro, o professor se apoia em LoureƧo e Adolpho Silva, e vai buscar detalhes de Bonfim, nas pĆ”ginas do “Correio do Bonfim”, alĆ©m de muitas outras fontes. Ɖ a obra mais completa e detalhada sobre a história dessa terra. Foi um homem de muitos tĆ­tulos na Ć”rea educacional.

Ouvi tudo que Robério Dias estava me dizendo, mas minha curiosidade era tamanha, que pedi permissão para subir no Coreto e ir ter com eles. A imagem disse que não, deveria me contentar em ficar aos pés do Coreto. Então perguntei O que eles conversam? A imagem mandou eu me aproximar mais para ouvir. Eu fui... Ah que doçura existia ali, era uma amizade pura. Um respeito enorme entre eles. Levantei as mãos e balancei os braços na tentativa chamar a atenção deles, mas era como se eu não estivesse ali. Fiquei maravilhado com tudo. Homens de valor, cavaleiros combativos que salvaram a história dessa terra.

Passo a relatar um pouco do que ouvi daqueles seres iluminados. Eles falaram sobre muitas coisas e uma das partes mais interessantes foi a sobre o AntĆ“nio Fialho, denominado, em um tempo distante de “Pai dos poetas bonfinenses”, por sua imensa sensibilidade na trova e na poesia. Era interessante o dialogo entre eles porque todos se volviam para LourenƧo e ele pouco falava. Era como se fosse aquele mestre que tudo ouve e depois dĆ” a palavra final, fazendo arestas e corrigindo erros. Uma das poucas falas que ouvi dele, após ele erguer seu braƧo, provocando silĆŖncio, foi o seguinte:

Lourenço: Eis aí aquele que em um tempo distante, foi o mais completo dos poetas dessa terra. AntÓnio Fialho nasceu nas terras de CariacÔ no dia 13 de outubro de 1826. São doces seus versos e macio seu compasso lírico. Foi um ser humano adorÔvel.

Dito isso LourenƧo se aproximou de Augusto Sena Gomes, tocou-lhe o peito, enquanto os demais o observava em silencio, e disse:

Lourenço: Em ti hÔ o perfume de AntÓnio Fialho. Foste-te tu, o grande herdeiro de tanto talento. Recebestes o dom da palavra em transferência, e em ti, adorÔvel Augusto, brilhou a chama de AntÓnio. O mundo dos vivos comete imensa injustiça, ao lançÔ-lo ao esquecimento.

Após Lourenço falar, Augusto Sena Gomes, levou a mão aos olhos, em tom emocionado e de gratidão. Paulo Machado se maravilhava com tudo aquilo, ele se colocava em uma atitude tão respeitosa entre eles, que mais parecia um servo diante de um deus. Mas no fundo era respeito e admiração. Augusto, como quem pede permissão para falar, e sendo correspondido gestualmente, disse:

Augusto: Vem dele minha paixão pelas letras. Foi através dele, que na aurora da minha vida, ainda guardador de livros, recebi os laivos do saber. Tudo que escrevi e produzir para esta terra, foi o propósito inicial de meu avÓ, até mesmo meu Gil Gaio, foi inspirado no velho Fialho. Os homens e mulheres dessa terra encantadora, mas infeliz quanto a busca do seu passado, devem por demais a AntÓnio Fialho, o príncipe dos poetas dessa terra.

Augusto Sena Gomes, como me disse Robério Dias, foi um grande orador. As multidões tremiam e vibravam com seus discursos. O dom da palavra lhe era notório. De fato, pude comprovar pelo que estava presenciando. Então voltei atenção para o Coreto mais uma vez, pois Adolpho Silva estava falando.

    Adolpho: Foste, meu mestre em vida Augusto. GraƧas ao seu imenso apoio, o livro: “Bonfim, Terra do Bom ComeƧo”, foi elaborado. Se hĆ” ti, muito de Fialho, entĆ£o ele tambĆ©m viveu em mim, pois tu fostes meu grande apoiador e minha referĆŖncia em vida. Se LourenƧo Ć© o nosso patrono, por ser o grande gĆŖnio de nossa terra, de LourenƧo e de ti, carreguei o mais afetuoso dos dons, “aprender”. Como fui feliz Augusto, em tĆŖ-lo como guia.

Estava emocionado com aquele dialogo. NĆ£o sabia que eles tinham sido contemporĆ¢neos – Augusto e Adolpho. EntĆ£o a imagem disse que ambos eram muito próximos. O mestre e o aprendiz.

Deus do céu, exclamei! Quanto saber existe aqui nesses homens. A sensação era de estar no Olimpo. Estes homens foram puro talento. Pagaram o preço da dedicação em produzir e registrar para as gerações futuras, tudo isso por amor. Seus nomes estão gravados na história para sempre. A imagem assentiu, e revelou que no mundo pós morte as pessoas brilham, e seus brilhos são devido a construções e legados para a coletividade. Assim um Camões, que morreu pobre, esquecido e miserÔvel, no pós vida, tem mais brilho que César de Roma. Aqui não importa os bens, e sim as contribuições coletivas e sociais. Lembra do São Marcos? Perguntou-me a imagem, assenti que sim, e continuou a falar, que mesmo na morte os vivos tentam construir túmulos imponentes para aqueles que falecem. De nada adianta, pois os julgamentos desse lado da vida têm seus critérios próprios. A morte iguala os homens. Esteja em cova rasa, ou tumulo pujante, voltam ao pó. Depois de me falar essas outras maravilhas, o espirito apontou para o professor no Coreto, que fazia uma deferência, como um fiel faz ao tomar a hóstia sagrada numa missa, e pediu a palavra. Todos assentiram com suas cabeças.

    Paulo: De tanto estudĆ”-los, eu os amei em toda a minha vida. O Norte sĆ£o vocĆŖs. Sem os senhores, ninguĆ©m avanƧa nem um palmo sobre nossa história. Sou o menor dentre vós, eu sei, pois fui beber em vossas fontes. LourenƧo, tu Ć©s meu pai; Augusto, o senhor Ć© o encanto dessa terra; Adolpho, um obstinado pelo saber, e grande responsĆ”vel em trazer LourenƧo e Augusto para nos livrar da completa ignorĆ¢ncia. Sou discĆ­pulo de todos os senhores, nĆ£o sou digno nem estar aqui ao lado de tanta luz, cavaleiros de Bonfim.

Quando Paulo encerrou suas palavras, LourenƧo lhe fitou e disse: “de Fialho a Paulo, somos todos um Ćŗnico ser. Um construiu sobre o outro de forma maravilhosa. Assim como se constrói uma pirĆ¢mide, comeƧando da base. Em vocĆŖ Paulo, estĆ£o todos os nossos apontamentos, de modo que vocĆŖ Ć© o maior de todos nesse Coreto. Sem vocĆŖ essa cidade nĆ£o nos conheceria. VocĆŖ fez de sua vida uma busca incessante pelas verdades sobre nossa terra. A Vila te deve homenagens, que por certo ainda virĆ£o. Fostes um sacerdote do saber.” EntĆ£o LoureƧo o colocou no meio e todos o abraƧaram, chamando-o de arauto, infante e sacerdote da história de Bonfim.

Acabei emudecido com aquela cena. Uma demonstração da mais pura humildade, nenhuma vaidade existia ali entre aqueles senhores.

Mas imagem disse que tĆ­nhamos que sair dali. Nosso tempo havia se esgotado. Rapidamente levitou em direção ao quartel me levando junto. Queria ficar mais um instante ali com aqueles senhores. Mas nĆ£o me governo na dimensĆ£o onde estava. Ainda olhei par trĆ”s, mas jĆ” nĆ£o via mais nem o Coreto, nem os Cavaleiros e nem a antiga praƧa Benjamin Constante. O que eu vi ao olhar pra trĆ”s, foi a PraƧa Nova do Congresso, mal iluminada. RobĆ©rio Dias sumiu nos ares. Eu quando dei por mim, estava deitado ao chĆ£o frio do alojamento. O dia jĆ” estava amanhecendo. Levantei rapidamente fiz algumas anotaƧƵes sobre o que vi e ouvi naquela noite, sobre os quatro cavaleiros de Bonfim, aqueles que doaram seu tempo em escrever e registrar a História, para que hoje nĆ£o vivĆŖssemos como cegos de passado(...)     

Elielton Cordeiro da PaixĆ£o – Ten PM.
CFO PM -APM/BA               
Prof. de História – UPE 

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